Oliveira
Não tenho conseguido
escrever. Tornei-me máquina, uma máquina
de reprodução. Às 16h meus/minhas estudantes me esperam. Cinco minutos antes já estou
na sala esperando-os/as. Dou uma aula
dizendo o que outros disseram. Faço
supermercado. Limpo a casa. Preparo uma reunião. Atendo às expectativas. Máquina-professora, máquina... me torno parte
de uma engrenagem doida. Faço a vida se fazer no que há de mais pálido na vida.
Não tenho escrito. Não tenho criado nada. Aliás, comecei a plantar. Cuidei da
terra, escutei conselhos de como deixá-la mais forte para receber as sementes
do milho, do trevo, do tomate. Todos os dias, olho a terra que devorou a
semente. Adeus! Agora, já é uma coisinha
de nada. Meu amor, experiente, me diz: "viu, aí está o milagre da vida". No dia
seguinte, um bichinho esfomeado e minúsculo,
rouba pedacinhos das folhas do meu futuro tomate. E assim, tenho visto a vida sendo criada. Outro dia, plantamos uma
oliveira. Ela foi batizada de Palestina. Está toda decorada com fitas
vermelhas, verdes e pretas. Por que não tenho escrito? Sei lá, talvez
porque a vida lá fora esteja mais bonita.
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